Saturday 25 July 2009

joe jackson

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finally Joe Jackson's book will reach my country in Portuguese

still i doubt any body will read it

awesome book

03/07/2009 13:16
Henry Wickham, o inglês que se tornou o “pai” da biopirataria
Livro conta a biografia do responsável pelo roubo das sementes de seringueira da Amazônia
Guilherme Evelin

 Reprodução
HOMEM DO IMPÉRIO
Henry Wickham, ao lado de uma seringueira no atual Sri Lanka, em 1905, e pouco antes de sua morte, em 1928 (à direita). Abaixo, a capa do livro sobre sua vida lançado nos EUA

Entre 1880 e 1913, a Amazônia viveu sua belle époque. Em 1907, o consumo per capita de diamantes em Manaus, a capital do Amazonas, era o mais alto do mundo. Lá, o custo de vida chegava a ser quatro vezes mais alto que o de Londres ou Nova York. Manaus foi a primeira cidade da América do Sul a ter uma rede de bondes elétricos. Teve também o maior porto flutuante do mundo, com recorde de movimentação de embarcações. Em 1906, pelas águas do Rio Negro escoaram riquezas suficientes para pagar 40% da dívida anual do Brasil. Um símbolo desse período de ouro ainda pode ser encontrado em Manaus: o Teatro Amazonas, inspirado na Ópera Garnier de Paris. A razão dessa prosperidade era a seringueira Hevea brasiliensis, dispersa na Floresta Amazônica. Ela produzia uma borracha de qualidade única no mundo e tão essencial para o transporte, a comunicação e a indústria da época como o petróleo é hoje em dia. Em 1913, esse mundo de riqueza sofreu um golpe mortal, quando a borracha extraída de seringueiras plantadas por britânicos no Sudoeste da Ásia invadiu o mercado, com a mesma qualidade e preços mais baixos.

Essa história é bem conhecida. Bem menos é a do aventureiro responsável pelo fim do ciclo da borracha na Amazônia. Em 1876, o inglês Henry Wickham, que se estabelecera em Santarém, no Pará, às margens do Rio Tapajós, contrabandeou 70 mil sementes de Hevea brasiliensis para o Royal Botanic Gardens de Kew, uma famosa instituição britânica com 250 anos de história no estudo da botânica. Wickham escondeu as sementes dentro de cestos trançados, sob folhas de banana. Disse que transportava apenas “espécimes exóticos e delicados” para os jardins da rainha Vitória, a monarca da ocasião no Reino Unido. Não foi incomodado pelos representantes da aduana brasileira encarregados de vistoriar o navio a vapor inglês em que viajava. Apenas 2 mil das sementes germinaram, mas as mudas, transplantadas para o Sudoeste Asiático, produziram, 37 anos depois, a ruína econômica da Amazônia brasileira e mudaram, em certa medida, o mundo.

 Reprodução
O contrabando das sementes de Hevea brasiliensis é conhecido como o marco da biopirataria global. A história desse roubo e de seu protagonista são os temas de uma extraordinária biografia lançada no ano passado nos Estados Unidos, The thief at the end of the world – Rubber, power, and the seeds of the empire (O ladrão no fim do mundo – Borracha, poder e as sementes do império) . O livro, de autoria do jornalista americano Joe Jackson, foi eleito um dos dez melhores de 2008 pela revista Time (a editora Objetiva adquiriu os direitos do livro, mas ainda não há data de lançamento no Brasil). O surrupio das sementes já era conhecido, mas, antes de Jackson, nunca ninguém escrevera com tamanha profundidade sobre Wickham. Além de pesquisas em bibliotecas e arquivos e viagens ao Amazonas e ao Pará, Jackson, um ex-repórter policial, encontrou escondido numa pequena cidade da Inglaterra o diário de Violeta Wickham, única mulher da vida de Henry. Ela partilhou suas aventuras até o dia em que foi deixada sozinha por ele por 19 dias numa ilha habitada por canibais na Papua Nova Guiné.

As sementes roubadas por Wickham causaram a ruína
econômica da Amazônia e mudaram o mundo

Jackson revela um personagem fascinante por seu lado quixotesco e pela tendência ao desastre, ampliada por uma completa inaptidão para o comércio e os negócios. Filho de uma família de classe média, empobrecida de repente por causa da morte súbita do pai advogado,Wickham saiu da Inglaterra aos 20 anos, rumo aos trópicos em busca de fama e fortuna. Agia inspirado no exemplo dos exploradores que levavam a bandeira do império colonial britânico a praticamente todos os rincões do planeta e eram considerados os heróis da época. Antes de chegar ao Brasil, passou por Nicarágua e Venezuela, onde travou contato com índios e aprendeu a tirar o látex das seringueiras. Contraiu várias malárias que o levaram à beira da morte. Obcecado com sonhos de grandeza, prosseguiu e convenceu toda a família a se mudar para Santarém, onde tentou estabelecer uma plantação de seringueiras. Foi um novo desastre, desta vez mais trágico. Em três anos, morreram sua mãe, sua irmã e a sogra de um irmão.

O roubo das sementes de seringueiras – feito sob encomenda do consulado britânico em Belém – foi praticamente a única coisa que deu certo na vida de Wickham. Mesmo depois de contrabandear com sucesso as sementes, ele não obteve nem fortuna nem reconhecimento imediato. Esnobado pela aristocracia britânica por não ter educação formal, perambulou por Belize, Austrália, Papua Nova Guiné – onde voltou a ter retumbantes fracassos. A consagração tardia por parte dos compatriotas britânicos só veio em 1920, quando ele recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico e passou a ser chamado de pai da indústria da borracha. No final da vida, Wickham costumava romancear o roubo das sementes, dizendo que tivera de enfrentar navios de guerra para tirá-las do Brasil. Era lorota.

Narrador habilidoso, Jackson sabe contar essa saga pessoal no devido contexto de uma empreitada do imperialismo britânico para manter sob seu controle um produto considerado vital. A botânica foi apenas mais uma arma para a manutenção da hegemonia econômica. Antes do roubo das sementes da Hevea brasiliensis, a coroa britânica financiara expedições às regiões andinas para o roubo da cinchona, a planta do quinino, substância usada no tratamento da malária e útil para as tropas inglesas que ajudavam a manter o comércio colonial no mundo. Imbuído de um peculiar senso de nacionalismo vitoriano, Wickham achava que o roubo das sementes era uma ação nobre em prol do bem comum da “humanidade, do império britânico e da rainha”.

A biopirataria de Wickham teve muitos desdobramentos, além da ruína econômica amazônica. Ela deu à Inglaterra monopólio global sobre um produto estratégico, que durou até a Segunda Guerra Mundial e a popularização da borracha sintética. Em 1930, o americano Henry Ford, que precisava da borracha para os pneus dos carros que saíam de suas fábricas, tentou quebrar esse monopólio. Adquiriu terras próximas de Santarém e criou uma cidade no meio da floresta – Fordlândia (tema de outro livro recém-publicado nos EUA). Foi outro fracasso, motivado pelas pragas e pela incompatibilidade entre os caboclos amazônicos e o modo de produção do “fordismo”. Outros ecos do roubo de Wickham reverberam até hoje. Há duas semanas, a Polícia Federal prendeu três pesquisadores americanos em Corumbá, Mato Grosso do Sul, que faziam pesquisas no Pantanal sem autorização. No meio acadêmico, há um debate sobre se o receio da biopirataria não cria restrições que prejudicam a pesquisa científica no país. Pode ser, mas a história de Wickham mostra que desconfiar das intenções de tais pesquisadores não é paranoia.


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